Os arranjos do tipo "Chord Melody" são aqueles
em que tocamos simultâneamente melodia e harmonia, ou seja, o solo e o
acompanhamento ao mesmo tempo.
Este tipo de arranjo exige, quase sempre, uma
boa dose de rearmonização. Sem ela, ficariamos limitados a tocar um acorde por
compasso ou então tantas inversões de um mesmo acorde quanto notas tiver no
compasso.
Por exemplo, vamos imaginar um compasso cujo
acorde é CMaj7 e que tem como melodia quatro semínimas, respectivamente "dó",
"ré", "mi" e "sol". A alternativa mais simples seria tocar o CMaj7 junto com a
primeira nota da melodia (o "do") e tocar as três notas restantes
desacompanhadas. Um pouco melhor seria tocar duas inversões de CMaj7, uma
harmonizando a nota do primeiro tempo (no caso, o "dó") e outra inversão
harmonizando a nota do terceiro tempo ("mi"), deixando as notas do segundo e
quarto tempo desacompanhadas. A próxima alternativa seria harmonizar cada uma
das quatro notas com uma distribuição diferente (não necessáriamente uma
inversão) de CMaj7, cada uma com a nota da melodia na ponta.
Mas o mais interessante seria criar uma "micro
harmonia" dentro do compasso, harmonizando cada nota. No exemplo citado,
poderiamos tocar C6, F13, Bb7(#11), Am7 (I, V>SubV>VI); ouC6, Fm6, G#dim,
Am7 (I, IVm6, VIIdim>VI); F#m7(b5), B7(#9), Bb7(#11),
Am7(II_subV>SubV>VI); Am7, C9/G, FMaj7, E7(#9) (VI, V>IV, VdoVI) ou
ainda Am7, BbMaj7, Bdim(11), CMaj7 (VI, bVIIMaj7, VIIdim>I), entre
outras.
Nos arranjos "Chord Melody" são harmonizadas
melodias até colcheias, o que torna quase impossível cifrar a música, já que
podemos chegar a ter até 8 acordes por compasso.Isso significa que a harmonia
que aplicamos nesse tipo de arranjo dificilmente pode ser aplicada junto com
outros instrumentos como baixo, piano, etc. Esse tipo de rearmonização funciona
- quase sempre - somente em guitarra-solo.
Outro ítem importante deste tipo de arranjo é a
condução, ou seja o acompanhamento rítmico que vai definir - de forma explícita
ou apenas sugerido - o estilo da composição.
A lição de hoje traz uma versão da bela "jazz
ballad" My Foolish Heart, um standard muito gravado e que tem uma versão
memorável no disco "The Tony Benett-Bill Evans Album".
É uma gravação caseira, feita com MD (daí a
baixa qualidade) há uns dois anos e absolutamente de improviso.
Repare na diferença que existe entre a harmonia
original, mostrada na partitura, e a harmonia tocada no arranjo. Há momentos em
que todas as colcheias de um determinado compasso são harmonizadas, às vezes com
uma inversão e outras vezes com um acorde diferente, fruto da
rearmonização.
O tipo de condução é a chamada "half time" em
inglês e "em dois" em português, ou seja que se destaca principalmente os tempos
um e três (e não os quatro tempos como no "walking").
A estrutura da música é ABAC, a música é tocada
duas vezes inteira e o improviso acontece, como é frequente em músicas lentas,
no segundo AB. Ele quase não tem "single notes" e sim blocos, além de uma
condução bem mais explícita do que na exposição do tema.
É altamente recomendável tirar a harmonia e
descobrir -através da análise harmônica - a lógica dos caminhos escolhidos. Na
partitura, os acordes indicados entre parêntesis indicam um segundo caminho
harmônico, às vezes substituindo e às vezes acrescentando acordes.
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